quinta-feira, 15 de julho de 2010

Balada das Calçadas

São tão estranhos os dias
Nas ruas ninguém namora
As vejo, sem companhia
Subindo a Ladeira Aurora
Desfilantes manequins
Vos acompanho vidrado
Minhas flores de calça jeans
Meus anjos sem dom alado
Distantes figuras deusas
Andando pelas calçadas
Intocáveis e indefesas
Contentes por cortejadas
Pintadas de branco e preto
Vermelhos pincéis nas bocas
Insinuai vossos peitos
Sob os rendados das roupas
Pintada de preto e branco
És Nefertiti, eu te vejo
Bailando inaudível tango
Sem nunca inventar o beijo
Tão sorrateira te ausentas
Como a fagulha de brasa
Que solta, sozinha, no vento
Rapidamente se apaga
Quisera fosse comigo
Pra cama doce do amor
E fosses por ter sentido
Um instintivo clamor
De seres a fêmea eterna
E logo despisse a blusa
E abrisse-me tuas pernas
As pernas que não descruza
Soltando um sopro de dor
Dor tenra a se converter
Na tensa carne, em calor
Na rubra gota, em prazer
Tens tanto medo de amar
Sois frustradas afrodites
Deusas urbanas do mar
E do amor que não existe
Nós, os poetas, morremos
De não poder ensinar-vos
Vossa vocação de vênus
Gingando por entre os carros
Vão pelas ruas do tempo
Crispados bicos de frio
Tantas ladeiras descendo
Sem reparar no assobio
Partindo pra nunca mais
As lindas musas mundanas
Tirai de mim toda paz
Transeuntes paulistanas!

Nenhum comentário:

Postar um comentário