terça-feira, 9 de novembro de 2010

Num Mundo Perfeito

Uma caixinha de música. Um retrato sem cores.
Ainda vê-se os fios castanhos na escova em repouso.
Imagens no espelho, ela só se vê.
Mergulha no olhar parado... Castelos de sonho,
balanço de árvore, garrafa de vinho que finda,
ela beija a taça com certa graça. Se perde...
Volta pra superfície do mundo, de si.
Repara as bochechas coradas, sorri.
Não lembrava de sorrir assim. Refletida
em gestos livres se enxerga simples e verdadeira.
No vazio do quarto selado, no silêncio
da noite lá fora. Encanta-se.
Segue a linha dos lábios, o púrpura,
se interessa pela pétala entreaberta
que parece vibrar, que arde. E ela
quer beijar-se. Boca, frio espelho.
Agora fita o pescoço fino, o cabelo
leve caindo e roçando uns ombros nus.
Colar, pingente e os seios - surgindo igual
segredos femininos, mansos e perigosos. De carne
e seda, pedindo: toca-me, dizendo: beija-me!
Coração exalta no peito, um sangue
denso insufla a têmpora. Sufoca.
Sem notar leva dois dedos ao ventre
corre licor pelas coxas.
São dois doces pés inquietos. Ela rola
no chão sobre livros e roupas.
Um novo céu que desmancha. Fica a parede
sombria no espelho deserto.

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