quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Luminário


.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
Se tem olhos, abra-os
nunca se sabe de onde vem a chuva
se do leste com o sol do vento antigo
se do oeste onde crescem laranjeiras
ou do sul onde os mares desnavegam
ou do norte feito punho de marreta
se tem olhos, veja
dentro da noite os espectros tem forma
são chapéus, são besouros diamantinos
são cinzeiros onde apagam super longos pensamentos
e um violão timbrando o belo ser desafino
pra enxergar foi querer
é de fora pra dentro, é dos olhos pra fora
e vai tudo dançando a retina explosiva
o neon da roseira, é natal em novembro
o amigo distante ao sentar-se na mesa
e comermos o pão da farinha do peito
a floresta de aromas floriu borboletas
e tudo se abriu num luar violeta
abra os olhos, veja
que as nuvens tem mais muito mais pra contar
desmaterializar, chuviagem trovejante
num relâmpago fantasma
luminosa tez de susto
vou molhar meus cabelos, vou dobrar meus desenhos
vou levá-los no bolso da camisa entreaberta
e vou dá-los à moça das jasmins rabiscadas
que cores farão primavera em seus ombros?
o lábio sentiu o carinho do lábio
apenas palavras maltratam sereno
se quiseres, ver, se te abrires vendo
como abrir a boca e deixar o canto
vir dos quatro cantos encantar suas roupas
e a manhã dizendo que a noite mentira
ela é tão fantástica, ela é tão mais viva
ela tem acordes de tocar mil liras
e o laranja em fogo sobre la ciudad
inundante luz nas masmorras de ferro
ao que todos erguem seus corpos cansados
vão descendo os morros pra morrer o dia...

Pequena Jenifer

Tudo bem, pequena
suas flores são serenas
e a àrvore perdôa
se lhe arranca as mariposas

A grama geme rindo
num rir-se toda em verde
pequena é tua boca
teu riso nasce imenso

Só tinha dois olhinhos
de amoras coloridas
a roupa cor de rosa
a prosa pouca e tímida

Se pode inventar nomes?
Pras flores pode sim
chamou-as Yasmins
e deu uma pra mim...

Natureza Morta

Que aconteceu com seus olhos, menina de bronze?
Parecem feitos de vidro - opacos cacos castanhos!

Entendo que já não sonhe, sonhar era mesmo inútil
mas quando a tarde descia
havia sempre um sorriso
café-com-leite e pão fresco

São cada dia maiores
os seus silêncios profundos
como se cada palavra
tivesse peso de chumbo

É doloroso dizê-las, sei
eu nunca mais disse alma
eu nunca mais disse amor
porém digo ainda riso, digo alegria, calor

Que te fez a face fria olhando as cores sem cor?

Maçãs escurecendo na fruteira de cerâmica
uvas nos verdes cachos, romã rosado e ameixas
emprestam vida à cozinha
onde te vejo sozinha, deixando o tempo deixá-la

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

V

.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
Tem um verde limoeiro
no alto daquele morro
é mais só que o timoneiro
navegando mar revolto

Um dia, a menininha
de vestidinho xadrez
se aproximou do arvoredo
tocando as folhas com o dedo

Que lindo és - lhe falou
e o limoeiro corou...
Então, a pequena dama
tirou um fruto das ramas

Como deitou-se a menina
sob a folhagem vibrante
no entardacer da colina
os limões brotaram doces...!

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

VI

Desato a deixar meus dedos
percorrerem a máquina
como um piano velho
de sons quebrados
pra seguir a melodia
das batidas secas
como folhas secas
que o outono tomba
todas tontas letras

Assim espreito
esse sentir sem par
que não tem nome nem
é qualquer outra coisa
deixa o corpo incompleto
feito átomos dispersos
da mesma matéria
e o sangue esvaindo
no vão das artérias
pra não explodir
o peito
num relâmpago de uvas
ou sopros imensos
de tuba
filha do som do mar
que amplifica
e reverbera conchas

Me acontece inútil
tentar falar a alma
ela é bem mais rústica
é madeira e música
num fluir de fogos
de guizos dourados
e relógios foscos
descompassados
mas tem uma coceira
que dá na orelha
e um horizonte
dobrado em panos
embrulhando o mundo
cheio de ciganos
e outras almas doces
pra trocar-se mel
e lamber-se os dedos
sobre o véu noturno

VII

Ainda ontem me falaram
de lábios concebidos na sombra
sobre toda a maldade das mulheres e homens
sua ganância hostil
e egocentrismo solar, queimando
a vida ao redor
numa fogueira fria

Pensei ser inútil seguir
atrás das rosas
pelo roseiral emaranhado de facas
e vi eu mesmo os inimigos na rua
e me afastei
do meu semelhante

Mas hoje,
dentro da manhã nublada
a senhora que sorria
se aproximou de mim
e me falou das amoras
que enrubesciam nos galhos
e de como seriam doces
ao fim do mês
de setembro

quinta-feira, 3 de março de 2011

Aprendiz do Mar

Quando a tarde deitar no mar
as últimas cores do sol
sozinho entre estrelas
mais antigas que a vida
vou deixar meu peito
guardar a canção das ondas
como as pequenas conchas
que têm em si o mar inteiro.

Tempestade

Mas seu coração não morrerá
nem que o tempo se desfaça
Somos crianças na chuva
com arco-íris nos lábios
sorrindo pro infinito...

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Poema Inacabavel

...pernas em erupção de rosas flamejantes
beijos coagulando saliva melodiosa
gemidos adormecendo no coração das nuvens
seios como luzes irradiando na noite
aromas irreais no esconderijo da pérola...

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Habitar

O pássaro vai e vai
até desaparecer nas nuvens.

Observo bem a geometria das casas
grandes blocos abrigando famílias
Porta adentro, um universo inteiro
Quarto fechado - refúgio de amor
Numa sala de lágrimas, três fotografias.

Além da soleira todas as ruas se encontram
permeando a cidade.
De cidade em cidade: países, e o mundo.

Mas há os que vagam
só corpo recebendo a chuva.

Onde é a casa das nuvens? Dos riachos
fendendo a terra? Dos relampeios de música?
Por aí, por aí - vem dizer meu peito!
E quem é dono dos lotes? Das alamedas?
Campinas? Todos são, todos são - diz
meu coração! Mas quanto lutam os homens
pra inscreverem seus nomes em minas
vales e montes, pra se espalhar sobre
as matas como se fossem gigantes, grandes
porcos obesos necessitados de espaço!
Enquanto os demais, os de paz e palavra
sonham em vão com quintais
com jardinzinhos, varandas e o arvoredo
tranquilo para amarrar um balanço!

Vem morar comigo, aqui nos meus braços?
Mas ela queria alicerces!

Aceito o frio e a fumaça dos ônibus
Meus versos fazem êco no horizonte
cansei de escrever nas paredes de sombra

As pombas é que tem direito a esse lugar
repousando na varanda das árvores
aqui e ali
onde ninguém é proibido.