segunda-feira, 29 de novembro de 2010

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Coral de Assobios


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Quis fazer uma balada simples
e bonita como um assobio
Rústica e forte, pintura
rupestre de caverna esquecida
Feita ao fogo que alenta
e repele a pantera das sombras
Clara como o espelho claro
que mira o céu. Despropositada
como a conversa de varanda
dos velhos mas que não
fosse vã, apesar do vazio
entreversos. Nua, vestida
tão só de humildade e dessa
caligarafia infantil
Pensei uma aurora verde
em pássaros ruivos e casas
lunares. Pensei um rio que
deslizasse livre, um coração
feliz de árvore, uma flor
errante entre terrenos
baldios. Mas não há palavra
minha que traduza esses
silêncios - sereno de noitinha
amena, chaleira a sussurrar
vapor de menta como um beijo
fresco, afresco de capela
branca, minha balada amada
tão pobre, sem flâmula
sem hino e sem forma - feito
pano de veleiro ao vento
ou a dança de uma vela acesa

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Poema dos Pães Partidos

Procurar em vão a ternura nos olhos, a aura multicor, a leveza de passos.
Os pássaros azuis de outros ares, outros cocares.
Coqueiros verdejantes sombreando areia quente, oásis para rede, redenção e descanso.
Mansidão da voz sabída do chicote, do chocolate, do amargo e doce
da vida - ali então, entre café e caximbo, ouvir a lição, o sermão, a cantiga.
Meiguice de menina entanto ardida, prometendo e enganando num mesmo sorriso
guizos, cristais e conchas e mais entre os vens e os vais da maré de flores.
Feixes, flechas solares rasgando o céu na manhã que surge como um neném bonito,
vestindo esperança. Ao meio-dia vira criança, entardece da infância
e a juventude evapora com a tarde branca. Adultece! Os restos da aurora desmancham...
Tristeza quando queda o Sol distante? Nasce a velha noite de morte e diamantes.
Passar por castelos e carros elaborando meus testamentos de barro, pão e palavras.
De terra fui feito, de sal e minério. Água e farinha na fornalha - cortado em versos
com navalha!
Repartido entre bocas e corações famintos. Fermento é o beijo, a fúria, o tormento!
Curioso dos corpos, naturalmente quente, de descompustura e carência,
desertor da ciência enamorando os mitos, elo de ciranda, curumim das tribos
que fumam e dançam.
Desejar as nuvens desenrolando-se em panos de seda, tornando-se naus, najas, baleias.
Um balão à deriva, um desfile de pipas, um avião que passa escrevendo fumaça
na celeste verde.
Quando a tarântula com pés de agulha eclipsa estrelas sobre minha cabeça e tece das nuvens ao chão
uma neblina fina. Como enrolando um inseto, mantém a cidade suspensa e gira, destilando teia.
Tudo são manchas e vultos estatuetas confusas contorno e face turva ruas tortas enjôo
miragem clarão de tinta colagens um voo pincéis velozes vidraças vertigem de imagens sem forma! Súbito
estanca! Mordida, veneno-vinho que amortece corpo e agita alma. A fisgada na espinha.
Então a calma, o silêncio de gelo, a espera imóvel do regresso pra casa
e do amanhecer que chega como um lento poente opaco.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Filho da Lua

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Sob a oliveira
um só corpo
de sangue e cabelos
Mas a poesia
que é infinita
meditativa
nos olhos úmidos.
Sobre as verdes
asas - a chuva
Lavando capas
cruéis! Sorriram
os fuzis em disparo?
A lua por certo
lamentava e queria
dar-te os braços
num abraço cerrado
e amoroso! Para
salvar-te...

Num Mundo Perfeito

Uma caixinha de música. Um retrato sem cores.
Ainda vê-se os fios castanhos na escova em repouso.
Imagens no espelho, ela só se vê.
Mergulha no olhar parado... Castelos de sonho,
balanço de árvore, garrafa de vinho que finda,
ela beija a taça com certa graça. Se perde...
Volta pra superfície do mundo, de si.
Repara as bochechas coradas, sorri.
Não lembrava de sorrir assim. Refletida
em gestos livres se enxerga simples e verdadeira.
No vazio do quarto selado, no silêncio
da noite lá fora. Encanta-se.
Segue a linha dos lábios, o púrpura,
se interessa pela pétala entreaberta
que parece vibrar, que arde. E ela
quer beijar-se. Boca, frio espelho.
Agora fita o pescoço fino, o cabelo
leve caindo e roçando uns ombros nus.
Colar, pingente e os seios - surgindo igual
segredos femininos, mansos e perigosos. De carne
e seda, pedindo: toca-me, dizendo: beija-me!
Coração exalta no peito, um sangue
denso insufla a têmpora. Sufoca.
Sem notar leva dois dedos ao ventre
corre licor pelas coxas.
São dois doces pés inquietos. Ela rola
no chão sobre livros e roupas.
Um novo céu que desmancha. Fica a parede
sombria no espelho deserto.