sexta-feira, 19 de agosto de 2011

VI

Desato a deixar meus dedos
percorrerem a máquina
como um piano velho
de sons quebrados
pra seguir a melodia
das batidas secas
como folhas secas
que o outono tomba
todas tontas letras

Assim espreito
esse sentir sem par
que não tem nome nem
é qualquer outra coisa
deixa o corpo incompleto
feito átomos dispersos
da mesma matéria
e o sangue esvaindo
no vão das artérias
pra não explodir
o peito
num relâmpago de uvas
ou sopros imensos
de tuba
filha do som do mar
que amplifica
e reverbera conchas

Me acontece inútil
tentar falar a alma
ela é bem mais rústica
é madeira e música
num fluir de fogos
de guizos dourados
e relógios foscos
descompassados
mas tem uma coceira
que dá na orelha
e um horizonte
dobrado em panos
embrulhando o mundo
cheio de ciganos
e outras almas doces
pra trocar-se mel
e lamber-se os dedos
sobre o véu noturno

VII

Ainda ontem me falaram
de lábios concebidos na sombra
sobre toda a maldade das mulheres e homens
sua ganância hostil
e egocentrismo solar, queimando
a vida ao redor
numa fogueira fria

Pensei ser inútil seguir
atrás das rosas
pelo roseiral emaranhado de facas
e vi eu mesmo os inimigos na rua
e me afastei
do meu semelhante

Mas hoje,
dentro da manhã nublada
a senhora que sorria
se aproximou de mim
e me falou das amoras
que enrubesciam nos galhos
e de como seriam doces
ao fim do mês
de setembro