segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Paixão Deflagrada

Preciso do seu amor
mas preciso, acima de tudo, que demonstre seu amor por mim
pois assim como a idéia só tem corpo na vivência
o amor só é de fato, quando é dito feito gesto
o ato consumado do que o peito sente e guarda
vai tocar minha pele jovem e depois da carne a alma

Sei bem que você me ama
mas preciso, impreterivelmente, que seu corpo transborde
e seus poros transpirem esse amor sempre tão grande
e seus lábios sigam os meus
e seus olhos naveguem meu rosto
e seus braços me prendam bem forte
como se pretendessem me livrar da dor e da morte

Entenda, o amor só tem sentido
dentro dos cinco sentidos
e antes de dizer: eu te amo
me ame como nunca disse
e as palavras serão as cores
das flores já perfumadas
quero uma paixão deflagrada

Já que me ama, demonstra
sem segredos ou mistérios
falo sério quando peço tais ações
tira o véu que encobre e esconde tua paixão
e se quiser prender na sua a minha mão
não exite em me tocar porque sou seu
nem duvido que seu amor seja meu
mas preciso a todo instante que me prove
já que os olhos não enxergam emoção

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Saudades da Estrada

Agora, nesse dia que me invade
acordo na cidade, recomposto
levanto, vou vagar com meu desgosto
pra ver se esqueço o gosto da saudade

Há tempos outro dia me invadiu
deixei a luz entrar pela janela
mas hoje, sob a chama de uma vela
a luz dura o tamanho do pavil

Procuro algo que possa queimar
inflamo a velha chama do meu peito
apático, o covil que foi desfeito
em brasas, já não pode me abrigar

Eu tento reviver as horas mortas
sonhar o sonho de outra temporada
mas negam-me o retorno nessa estrada
Silêncio! Que o futuro bate à porta

Mantra de felicidade

Se tudo ficou mais claro
e o belo se definiu
como quando você sorri
aquele sorriso infantil
que mesmo em silêncio me diz:
eu só precisava encontrá-lo
pra viver a vida feliz

Mantra de caminhada

Eu tento vencer o tempo
e tento não pensar
eu penso que já faz tempo
mas o relógio não quer andar
eu ando sem ter destino
sem credo, ideal ou hino
eu canto uma melodia
para um novo dia chegar

Desassossegado

Aquele velho amor
tão calmo e controlado
agora desandou
sigo desassossegado

Os puros juramentos
foram todos violados
e timbra no meu peito
um coração descompassado

Te ter de qualquer jeito
pra sempre do meu lado
é meu sonho imperfeito
que busco, desgraçado

A calmaria ausente
no ardor incontrolável
me incita toda a dor
de um querer despudorado

Agora só restaram
dois finais improvisados
te mato de amor
ou morro abandonado

Casamento

O galé
cana seca
no moinho do trampo
saía da ripa moído
pra melar a boca grande
do senhor
patrão de engenho

Foi aos tropeços
trupicando em tudo
se enroscou no passo
caiu de maduro
sentado no chão
viu meio difuso
objeto brilhante
eram dois parafusos
guardou no bolso
e foi-se embora bêbado

Era essa a chance
que esperava a anos
trabalhava tanto
e no entanto
não tinha grana
pra comprar anel,
engajado no noivado
finalmente casaria
deu um soluço seco
e agradeceu aos céus

Mal chegou em casa
tão logo viu a moça
meteu no dedo dela o parafuso rijo
desatou o nó da língua
e gaguejou num sorriso:
- Menina matrera me conta
conta acá no meu ouvido
eu te quero além da conta
e você pensa e me conta
se quer bem casar comigo?

A moça acanhada
assanhou-se toda
de vestido longo
lenço, brinco e conga
derramou gota de água
quando olhou pro novo anel
nem precisava mas disse:
- Caso sim e no festim
quero flor, grinalda e véu

do casório eu me memóro
que teve papel passado
um bocado de frango assado
refrigerante e salgado
e havenhamos de convir
que um anjo desceu na igreja
pra ouvir emocionado
o enamorado dizer sim
E assim se fez o laço
com aliança de aço
que é pra nunca se partir