terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Casamento

O galé
cana seca
no moinho do trampo
saía da ripa moído
pra melar a boca grande
do senhor
patrão de engenho

Foi aos tropeços
trupicando em tudo
se enroscou no passo
caiu de maduro
sentado no chão
viu meio difuso
objeto brilhante
eram dois parafusos
guardou no bolso
e foi-se embora bêbado

Era essa a chance
que esperava a anos
trabalhava tanto
e no entanto
não tinha grana
pra comprar anel,
engajado no noivado
finalmente casaria
deu um soluço seco
e agradeceu aos céus

Mal chegou em casa
tão logo viu a moça
meteu no dedo dela o parafuso rijo
desatou o nó da língua
e gaguejou num sorriso:
- Menina matrera me conta
conta acá no meu ouvido
eu te quero além da conta
e você pensa e me conta
se quer bem casar comigo?

A moça acanhada
assanhou-se toda
de vestido longo
lenço, brinco e conga
derramou gota de água
quando olhou pro novo anel
nem precisava mas disse:
- Caso sim e no festim
quero flor, grinalda e véu

do casório eu me memóro
que teve papel passado
um bocado de frango assado
refrigerante e salgado
e havenhamos de convir
que um anjo desceu na igreja
pra ouvir emocionado
o enamorado dizer sim
E assim se fez o laço
com aliança de aço
que é pra nunca se partir

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