quinta-feira, 26 de março de 2009

Reluzente

Pobres os esquecidos
perdem seu legado de felicidade
e onde antes havia
imagens de um passado
resta apenas nada e porosidade

Sob a pele mil veias
sob a carne o sangue quente
mais que um corpo efervescente
em verdade nos permeia
essa matéria incandescente
impalpável, invisível
criada por nossa alma
fazendo parte da gente

A memória é um história
que lemos de trás pra frente

Pense em cada segundo
como pedra colorida
solitária é só minério
uma rocha sem mistério
mas milhões dessas unidas
cada uma diferente
vão compor conjuntamente
o mosaico da sua vida
Quão triste o miserável
que tem poros na lembrança
e deixa no vão do tempo
suas pedras da infância
e perde no fio das horas
suas peças mais coloridas

Um homem na calçada
exaspera-se agachado
chora e grita, desolado
enquanto tenta emocionado
apanhar no chão de asfalto
um milhão de finos cacos
que um dia compuseram
seus vitrais estilhaçados

Fecho os olhos
e o escuro se parece
com a tela de um cinema
uma tela ladrilhada
de pedras muito brilhantes
todas elas diferentes
como prismas reluzentes
guardiões de uma cena
um ponto do meu passado
que pode ser revisado
e sentido novamente
uns me fazem contente
outros doem simplesmente
mas todos são meus e sei
que serão meus eternamente
não posso quebrá-los nunca
por mais sofridos que sejam
pois todos, nobres ou tristes
se encaixam perfeitamente

Nenhum comentário:

Postar um comentário