quarta-feira, 17 de março de 2010

Noturno

As estrelas diluídas na noite
eram frias e indiferentes
tão velhas pros meus olhos jovens
e ainda assim me sorriam
de um riso claro e displicente
como quem sabe a resposta e não diz
como quem vê, nos caracóis do tempo, um propósito
as estrelas mais lívidas
no infinito gelado do espaço e das eras
brancas, espargindo leite, lentamente
vivendo suas mortes ardentes
porque posso ter em meus olhos
tantas constelações de fogo
enquanto a asa noturna se arrasta
fazendo espuma e silêncio?
porque as palavras são nulas
e há tantas lembranças rondando meus lábios?
porque esse brilho sereno, pequeno na madrugada
quase me rasga a carne, o canto e a retina?
quisera elas fossem meninas
seminuas e lindas, sozinhas no céu
pra eu lhes beijar com força
mas não, não deitam no chão
distantes pedrinhas de gelo e carvão
até que o dia chegue, azul-vermelho
e lave meu corpo desse veneno
e livre meu sonho dessa hipnose

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