terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Alinhamento

Aos que vivem no quase
e com um só pé
cruzam as portas

Aos que param na véspera
Esperando os sinos da tarde
Esperando filhos ferverem
ou anjos cruéis de julgamento
e morte...

A esses enclausurados
em celas numéricas, nos calendários
migrando de jaula em jaula
Ao banho de sol no sábado, ao mar no feriado!

Atrasam o relógio do peito
dois minutos antes da vida
e levam um ar de esperança
como a aposta contida
que nunca colocam na mesa
pra nunca dar-se perdida...

Mas que tristeza é deitar-se pra que o sono não venha
e casar-se depressa antes que o amor chegue
e lamentar-se do inverno que cobrirá seu jardim
antecipando o fim, antes do fim, que fim?

Hoje, sozinho, na estrada borrada
sou pesadelo de rio
refletindo seus olhos

Pequenos fogos castanhos!

Eras exata no tempo.
Eu queimava lento, em pensamentos
Num quase beijo disperso
quando mordeste meu lábio
no sangue...

Paredes ruborizam de luar
Os carros naufragam na distância de sempre
Alguns se inclinam pra tornar-se sombras
mas os sopros do sax derretem ao fundo
e eles sabem que a vida e inevitável

Palmilho as calçadas sem ver
Alguém me dá a mão, juntos no instante
pra ganhar ou perder...
E ao vê-los nos bares, ainda cismo
que procuram trago a trago
algum abismo

Também persigo tolo essa pureza
e às vezes, num relance, nossos corpos
parecem ser quimeras de asas presas

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