quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Cantar Contra os Reis

É preciso ser de amor
último abrigo dos pássaros
na tempestade.
É preciso ser livre
porque a lua é livre
e rios não são rios
se represados
e um dia vi a fúria amarga
nos olhos de um tigre
preso.
É preciso ser de paz
sabem disso o pai e a mãe
quando abençoam seus filhos
cerrando os olhos
no portão de casa.
Sabem mais os avós
destemidos da morte
como é triste temer
a vida, temer a noite
e o outro.
Mas sabemos,
é preciso também
ser de luta
para honrar a farinha
do pão que se come
e honrar o trigo apartado
da terra e ainda mais
os homens que ceifaram
o trigo, a custo
de tanto suor
que não se pode medir
em cascatas ou lagos.
Cravar os pés na areia
quando o mar golpeia,
e o mar é forte.
Cantar um amor
mas não calar se a lei
for silêncio.
Resistência começa
quando é preciso lutar
pela liberdade,
quando só coragem afina
a viola exilada
quando o pássaro vôa
através dos relâmpagos.
Em tempo
de tanta liberdade roubada
será preciso escolher
entre viver
ou sentir vergonha desse pão
que devoras com pressa
no esconderijo
de vidro.

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