sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O Desejável Berço do Mel

Preciso desembrulhar meu coração em palavras.

A pouco me atingiram olhos, fatais como relâmpagos
Eram lâminas em rosto doce de felina
De menina crescida, traiçoeira, hipnótica
Aprendendo a brincar com a tolice dos homens
A tolice infinita, minha grande virtude.
A pouco me dobraram dois olhos
E como não bastasse descompassar meu fôlego
Arquearam meus braços para recebê-la
Poema afetivo de lábios fendidos
Movendo-se lenta na atmosfera vermelha
Com cabelos proibidos amarrados num cacho
Com seios miúdos de framboesa lúdica
Com mãos melódicas descansando no ventre
A trufa sutil, de pelúcia e jasmim
Delineada em nanquim. Uma flor em segredo.
A pouco me cortaram da calma, dois olhos somente
Sem pairar palavra ou iminente toque
Cometeu-se pecado. E a luxúria emudecida
Foram os desenhos de tinta na pele
Foram as coxas gêmeas, tão claras
Foram os gestos nascidos na infância
Tudo em segundos furtivos de vida, desencontrados.

Eu só posso estancar meu coração em palavras.

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