terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O Levante














A correnteza dos ventos levou o moinho
quatro pás, passarinhos, vararam todo o céu mosaico
dilacerando as nuvens iluminadas sem rosto
No entreposto dos anjos malditos, nasceu um grito!
Montanhas distantes descortinaram retalhos
de galhos e folhas e rios correndo livres no infinito
Em cada vão de sombra o som do grito, do grito
abençoado dos malditos... Cães latiram liras
pela estrada de poeira e o rolar das cachoeiras
tamborilando nas pedras, pela selva o eco dos macacos
fazendo algazarra no ôco das árvores! Os que vagueiam
farrapos, imundos foragidos do Massacre de Canudos
Os nuncas, os nulos - de asas soerguidas entre estrelas
amassadas! As defloradas silentes! Os sem casa - pingentes
mais revoltos da cidade... Num afluente de vozes frias
Como fantasmas peregrinos que acordassem com corpo
Como poemas, se desprendendo dos livros em espasmos
de tinta! A lua baixou dois braços, dois riachos
azuis e arrancou as estátuas de pedra e atirou
os monarcas no abismo! Um trovão liberto percorreu
seis desertos, deixando rastro de espelhos
e uma canção que dança! Amor, como sorriram
os dias, quando a criança e a canção deram mãos
e dançaram, atravessando outono, primavera
e verão para a quinta estação, onde os trens se encontram!
Amor! Como vamos sorrir, os loucos, quando a criança
crescer numa vila de paz e a lua descer da noite
com um ramo de raios para coroar a menina
princesinha sem trono!

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