quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Embolia

Não mais o pão seco que assombrava
minha mesa matutina.
Rasgador de garganta, cegando
o punhal afiado dos meus versos
como eu mordesse pó
sem copo dágua.

Emergi da sua carne
engolindo ar, enchendo os pulmões
doloridos. Vinha do mármore oceânico,
onde anêmonas profundas
me matavam docemente. Voltei
com frio e fome. Ainda nu
quando me vi nas ruas
de carros corriqueiros, de cheiros
e cortiços. Desvencilhava-me,
sentindo o carinho das algas
no calcanhar e as traiçoeiras pernas
de polvo num dolente abraço úmido.

Meu precipício de sonhos partidos!
Por quantas primaveras me manteves
congelado? Meiga prisão de vidro
onde deitei escravo da beleza impune!

Sinto agora minha pele descolar da tua pele, sem rasgar-se.
Ignoro teus lábios como um velho idioma desaprendido.
Vejo tua voz morrer em pequenos vórtices de sombra.
Para voltar à superfície sob um sol desfolhado.

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