segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Cidade dos Pássaros

Criatura de plumas, percorrendo os vazios
azuis das nuvens mestiças, o corpo em cruz
envolto em vento, sobre os telhados velhos
da morada humana, vagando a sombra sutil
pelo vale dos rios e as cascatas de folhas
Sentinela do estio, na última torre dos sinos
da catedral de pedra. Os nômades da estação
sempre sob o Sol em chamas, além da montanha
na pele do lago, o pássaro espelha, tem duas
imagens. Olha o cais, onde a madeira apodrece
sua antiga força, da marujada de todo o globo
cheirando a peixe, falando alto, olha a paz
do porto no vôo da gaivota, no grito da chegada
de volta ao retiro com ramas no bico, vem
arquitetar um berço. A canção que é bonita
e é triste e serena, a canção da floresta
perdida pra sempre, da saudade dos galhos
de flores douradas - muita melancolia para
um coração selvagem. Eles viram a guerra
do fogo, eles viram o degelo nos polos
e tomaram as chuvas no agreste e pousaram
no cimo dos prédios. Na revoada, o balet!
Em sincronismo perfeito, nunca tocam-se
as penas, ninguém vai mudar seu rumo, não
há divisas possíveis, o céu é inteiro e sem
fim, em uma face é a noite, na outra face
é o dia, tem sempre uma aurora vermelha
e sempre também um poente, nós construímos
igrejas, milhões de estradas, favelas
mas a cidade é dos pássaros - cada pequena
cidade - os pássaros tem um segredo que vão
cantando pros homens em seu linguajar de ave
mas quem pode ouvir suas palavras
perdido no vão das cidades...

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