Os carros vão depressa
só param nos faróis
as luzes das lanternas
eternas como o sol
Pessoas vão dispersas
cruzando meu caminho
suas faces encobertas
nubladas como o céu
Vozes perdidas
ecoam em mim
o zunido no ouvido
é anúncio do fim
As folhas de uma árvore se agitam
jornais de ontem passam voando
e giram, entre sacolas e poeira
num rodamoinho de vento
Gritos, choro infantil
ofensas, buzinas e motores
trilha sonora de um dia qualquer
Paro de súbito
à sombra de um edifício antigo
a cor do meu rosto oscila
entre o branco e o vermelho
de uma sirene em serviço
Meus olhos vêem
o que ninguém mais vê
Tudo pára,
os galhos, as folhas
as sacolas param no ar
entre a poeira
as vozes morrem
no pé da minha orelha
e a lágrima fica pendurada
na pálpebra da criança imóvel
nos braços da mãe estática
uma moeda quase toca a mão do pedinte
e um ladrão pára no ar
pulando o muro da delegacia
nem o ar se movia
mas eu vi...
Do outro lado da rua
a barra do vestido roxo
e o all-star azul
vagando nas ruas, além do tempo
Quis tocá-la, não pude
estava paralisado...
Ela passou do meu lado
e a hora voltou a correr,
eu voltei a morrer
O ladrão precisa fugir
O mendigo precisa comer
E ela, que pára o mundo
só pra tremular a barra do vestido,
precisa do quê?
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