quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Atemporal

Todo o céu é um relógio imenso de veludo azul
o sol - ponteiro - rola no infinito
por vaidade das engrenages ocultas do mundo

tic-tac, tic-tac
estalido de vento
nos galhos das árvores

tic-tac, tic-tac
os carros gemendo
ganindo lamentos

tic-tac, tic-tac, tic-tac
os dentes da hora
roendo meu tempo

Ando todo sonho na estação cinzenta
os vultos velozes se agigantam
a fuligem me rasga a garganta
num torpor terrível
o corpo gelado treme, espasma
atacado de asma e medo
espreme a alma na carne
revelando nobres segredos
quando um fio azul brilhante brota dos meus olhos
despeja nos trilhos o celeste pulsante
enxente de sonho, inundo o rio e as ruas

Que exploda o sol e queime o céu
e caiam as estrelas como chuva derradeira
que o tempo vá pro espaço
com suas voltas e parábolas!

me deixa ser um pouco anacrônico
dançar com o passado, brindar com o futuro
na curva das horas, quero tudo agora
crepúsculo e aurora no mesmo segundo!

deixa a criança correr na chuva
pisar na poça e se sujar de lama
já agora a lua inflama
e a luz belisca a noite
tantas molas e roldanas
perecendo na ferrugem
tantos números e contas
vão perder-se na corrente
do contínuo presente...

tic-tac, tic-tac
tudo segue simplesmente

os relógios funcionam regularmente
passado antes de agora
futuro depois do presente

tic-tac, tic-tac
flui a vida na corrente

escuto um suspiro
e o dia morre nos meus braços!

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