Todo o céu é um relógio imenso de veludo azul
o sol - ponteiro - rola no infinito
por vaidade das engrenages ocultas do mundo
tic-tac, tic-tac
estalido de vento
nos galhos das árvores
tic-tac, tic-tac
os carros gemendo
ganindo lamentos
tic-tac, tic-tac, tic-tac
os dentes da hora
roendo meu tempo
Ando todo sonho na estação cinzenta
os vultos velozes se agigantam
a fuligem me rasga a garganta
num torpor terrível
o corpo gelado treme, espasma
atacado de asma e medo
espreme a alma na carne
revelando nobres segredos
quando um fio azul brilhante brota dos meus olhos
despeja nos trilhos o celeste pulsante
enxente de sonho, inundo o rio e as ruas
Que exploda o sol e queime o céu
e caiam as estrelas como chuva derradeira
que o tempo vá pro espaço
com suas voltas e parábolas!
me deixa ser um pouco anacrônico
dançar com o passado, brindar com o futuro
na curva das horas, quero tudo agora
crepúsculo e aurora no mesmo segundo!
deixa a criança correr na chuva
pisar na poça e se sujar de lama
já agora a lua inflama
e a luz belisca a noite
tantas molas e roldanas
perecendo na ferrugem
tantos números e contas
vão perder-se na corrente
do contínuo presente...
tic-tac, tic-tac
tudo segue simplesmente
os relógios funcionam regularmente
passado antes de agora
futuro depois do presente
tic-tac, tic-tac
flui a vida na corrente
escuto um suspiro
e o dia morre nos meus braços!
Nenhum comentário:
Postar um comentário