quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Visão Noturna

O último gole
o último trago
a última ponta
do cone de sombra
que chamamos noite
em algum lugar
a cidade dorme

Os corpos cansados
repousam
seu merecido descanso
enquanto as almas
ardem e andam
ávidas atrás da poesia
perdida
que lhes foi negada
durante o dia

Me rasga o ouvido
o ranger das rodas
rolando no trilho
o canto de aviso
faz parte do encanto
um grito expressivo
que diz: tô chegando!

Embarco na pesada máquina
meu espírito inquieto
se acalma
fogo de vela minguante
se espelha na lua distante
que vai sumindo no céu
disponta o Sol no horizonte
e o dia raia aqui, dentro de mim

Essa noite
me embriaguei de vida
num prazer suicida
pra que minha alma adormecida
despertasse
e caminhasse
com as outras desgarradas
que de madrugada
deixam a casa dos homens
e somem no mundo dos sonhos

Agora
na aurora gelada
palavras explodem
da ponta da caneta
versos dispersos
que eu não invento
apenas aprendo
com as almas errantes
de luz noturna
histórias de cruz e pluma

Lágrimas de sol no céu sem lua
marias do terço nos dedos da puta nua

São só pedras no mosaico
estrelas que se repetem
minha visão terrestre
da abóbada celeste

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